Nascido em Trieste – cidade do Mar Adriático na qual se cruzaram as mais variadas línguas e culturas –, Magris foi professor universitário de literatura alemã. Traduziu para o italiano livros de autores como Heinrich von Kleist e Arthur Schnitzler. Sua obra é caracterizada por uma enorme erudição e por formas narrativas sempre surpreendentes. Às Cegas exigiu muito do autor – foi iniciado em 1988 e só publicado em 2005. Como em Danúbio, temos uma longa viagem no tempo e no espaço – a saga mítica dos Argonautas é constantemente invocada. O protagonista está numa instituição psiquiátrica italiana. Parece sofrer daquilo que em medicina é conhecido como distúrbio de personalidade múltipla, situação em que várias identidades convivem na mente de uma só pessoa. Conversando com o médico, ele assume vários personagens, com nomes, nacionalidades e situações históricas distintas.
Entre eles, há um nativo de Trieste que combate na Guerra Civil Espanhola, torna-se membro do Partido Comunista e passa por dois dos maiores pesadelos históricos da Europa – um campo de concentração nazista e um gulag stalinista. Outra "encarnação" é um marinheiro que se torna governante da Islândia no século XIX. Em cada um desses episódios há uma mulher por quem o protagonista se apaixona e cujos nomes variam: Maria, Marie, Mariza, Norah, Mangawana. O mar, com sua imensidão e seu mistério, é uma referência constante.